Como é o tênis brasileiro que terá ouro e custará até R$ 10 mil


Fabricante das máscaras Fiber Knit cria tecnologia para viabilizar personalização com volume; vendas começam em novembro

Qual é o limite para a personalização de um tênis? Para o empresário gaúcho Gustavo Dal Pizzol, dono da Top Shoes, vale até incluir detalhes de ouro nos sapatos para garantir a exclusividade. E nem pense que esse projeto ficará na prancheta: as primeiras vendas devem começar até mês de novembro. Esse será o segundo passo para o fabricante que, no ano passado, faturou 45 milhões de reais com máscaras.

“Começamos como um estúdio de desenvolvimento de calçados, mas, há quatro anos, nós começamos a investir na transformação para ser indústria. Somos pioneiros em tecelagem 3D no país e já tínhamos bons clientes, como Arezzo e Vert. Então veio a pandemia e precisamos pensar em alguma solução para não parar. Depois de uma semana, desenvolvi uma máscara e, 15 dias depois, já começamos a produzir. Não criamos um projeto simples e decidimos fazer a melhor opções do mercado”, diz o empreendedor.

Essa foi a primeira investida na marca própria, já que, até então, a empresa trabalhava somente como private label – direcionada às vendas diretas – para não competir com os próprios clientes. Por isso, foi necessário criar uma nova marca praticamente do zero antes de chegar ao mercado. E a produção teve início antes mesmo dos primeiros pedidos serem feitos, já que, àquela altura, se tornou a única aposta.

“Eu acreditava no projeto e, em seguida, tivemos a notícia de que nossas máscaras foram bem-aceitas pelo mercado, principalmente no setor esportivo [utilizada pelas equipes de Corinthians; Internacional; São Paulo; Seleção Brasileira; e também pela delegação brasileira nas Olimpíadas de Tóquio]. Depois de março, começamos a trabalhar 24 h por dia, inclusive aos sábados e domingos, para suprir a demanda. Também colocamos nossa indústria de impressões 3D, que ficaria em stand-by, para fazer acessórios”.

Já estampando a identidade da recém-criada Fiber, as máscaras com tecnologia Knit – que são livres de costuras – passaram a ser comercializadas em algumas das principais lojas de equipamentos esportivos, como Bayard e Track&Field, além de Renner e Amazon (no caso do e-commerce, se tornou o item mais vendido do segmento). Mas, com o avanço da vacinação, a empresa já prevê a redução desse volume.

 

“Entendemos que a máscara tende a reduzir o volume e nós já estamos preparando novos produtos. E saímos da pandemia com marca no mercado, canal de vendas bem-desenhado e vamos continuar como fabricante de materiais esportivos de alto nível. Não seremos uma fast fashion, que simplesmente fará roupas e acessórios. Vamos seguir o conceito da Apple, de ser referência dentro do segmento, porque a gente tem, de fato, as melhores tecnologias do nosso segmento de negócio e uma equipe muito forte”.

 

Para fazer frente às marcas que já estão no mercado, a Top Shoes desenvolveu um calçado casual com foco na personalização graças à produção com impressoras. E, tamanha a importância do método para viabilizar a rentabilidade, foi criada uma nova empresa – batizada Gate 3D – junto com a Sazi Máquinas, responsável pela produção de todos os equipamentos necessários para a linha de montagem dos tênis.

 

“Foram investidos cerca de 30 milhões de reais até agora, mas já prevemos que, nos próximos dois anos, serão colocados 200 milhões de reais nesse projeto [que inclui outros produtos, como suporte de braço para o smartphone e acessórios para academia]. Por ora, temos 150 máquinas em funcionamento, com a previsão de chegarmos a 1.000 máquinas em 2023, com faturamento estimado de até 160 milhões de reais daqui dois anos. E nos tornaremos o maior corpo industrial de impressão 3D na América Latina”.

 

E como evitar a concorrência dos grandes nomes do mercado, como Adidas, Asics e Nike? Basicamente, mantendo o modelo de personalização, que é inviável para as empresas com grandes volumes. Ou seja, o tênis também servirá de laboratório para demonstrar a viabilidade do processo. Essa é a sacada: atrair atenção das principais empresas para, depois de consolidar as tecnologias, prestar serviço terceirizado.

 

“Estou antecipando o que acontecerá no futuro e trazendo agora para o mercado, que é o aumento da personalização. No momento que lançarmos nosso produto, com cerca de 1.000 pares por dia, não seria interessante para as principais empresas, que precisam de volume. Mas, no momento em que criamos uma marca própria e aumentamos a capacidade produtiva, com 5.000 pares diários, estaremos prontos para encaixar grandes clientes. Porque a inovação não sai de zero para 5.000 pares do dia para a noite”.

 

Boa parte das vendas serão feitas por meio do e-commerce, mas também haverá pontos de vendas – no caso das máscaras, há quiosques em dez aeroportos – e parcerias com outras marcas para oferecer lotes limitados de edições específicas. No modelo básico, disponível nas cores preta e branca, os tênis partem de 1.500 reais, mas podem chegar aos 10.000 reais nas configurações mais caras, que incluem até ouro.

 

“Entendemos a dinâmica, porque, atualmente, o cliente vê na loja o produto que gosta, só que não tem a cor desejada, ou então o solado como gostaria. No fim, é preciso se adaptar: ou pelo produto, ou pela cor. O que propomos é desenvolver um tênis que possa ser totalmente personalizado, como é tendência nos Estados Unidos, e que isso seja viável comercialmente. Porque os produtos padronizados devem ser cada vez mais raros no mercado. No fim das contas, o shopping e a loja física são apenas showrooms”.

 

De acordo com Dal Pizzol, não existe a possibilidade de ver outros fabricantes reproduzindo a tecnologia desenvolvida pela Gate 3D, porque já foram registradas patentes de produto, método de produção e até do maquinário. E para garantir mais visibilidade em todo o mundo, está em processo de estruturação a operação nos Estados Unidos, além de planejar a chegada à Europa por meio da Inglaterra e Portugal.

 

Fonte: Site Revista Exame


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